Mais um credor ingressou na Justiça para tentar derrubar o RCE (Regime de Centralização de Execuções) do Corinthians. Desta vez, o advogado e empresário Marcelo Robalinho, dono da ThinkBall, de agenciamento de atletas, por meio do escritório Robalinho Alves Advogados, entrou com pedido para que o tribunal rejeite o prosseguimento do processo.
A empresa questionou a “situação desesperadora” do Corinthians para ter aberto o plano de pagamento de dívidas, apontando que o clube não incluiu na RCE valores em aberto com instituições financeiras e a dívida do estádio, hoje perto dos R$ 700 milhões. O débito total do clube supera R$ 2,4 bilhões.
Na planilha apresentada pelo clube na RCE, a dívida com o Robalinho Alves Advogados seria de R$ 345 mil. Porém, segundo apurou a reportagem, o débito total supera a marca de R$ 1 milhão e é referente a sucumbências, ou seja, cobertura de gastos da outra parte em processos perdidos. O entendimento é que pagamentos dessa natureza, como honorários advocatícios, poderiam ter prioridade ou serem excluídos da RCE para serem pagos com antecedência.
Entre os clientes de Robalinho está o ex-meia Jadson, que possui diversos valores a receber do clube. Apenas no CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas), órgão criado pela CBF para resolver conflitos entre clubes, federações, atletas e empresários, a dívida com o ex-atleta está em torno de R$ 13 milhões.
No processo, o Robalinho Alves Advogados cita os gastos do clube com reforços, como a chegada de Memphis Depay. O escritório menciona que o Corinthians desembolsou mais de R$ 170 milhões em contratações apenas no ano passado, “fora salários e frivolidades”. “É um escárnio com seus credores”, escreve.
“É mais vantajoso ao clube inadimplir e manter o dinheiro em investimentos de liquidez diária, como o CDI, do que pagar dívidas que ele pode rolar por anos para depois pedir um plano de pagamento na qual o índice de atualização se limita ao IPCA. Trata-se de um verdadeiro negócio da China”, disparou Robalinho, em petição enviada ao Judiciário.
O advogado Arnaldo Ramos, do escritório RA Law, que representa o Robalinho Alves, disse à ESPN que o pedido é para que o “Judiciário aplique a Lei”, com o Corinthians destinando 20% das receitas para pagamento dos credores e incluindo a totalidade da dívida, sem razão para beneficiar alguns credores.
“O Corinthians precisa economizar nos gastos estratosféricos e não buscar obter descontos e prazo nas dívidas já contraídas, em contrariedade à Lei da SAF. O Flamengo e o Palmeiras cortaram na carne, pagaram suas dívidas e hoje são potências. O Judiciário não pode coadunar com gestão temerária”, apontou Ramos.
“As dívidas incluídas no RCE representariam, com base nas alegações do Corinthians, 15% do seu atual passivo, mas apenas com contratações realizadas em 2024, ano que o clube bateu recorde, foram comprometidos mais de R$ 170 milhões, fora salários. E o Corinthians está nessa situação, muito embora tenha batido recordes sucessivos de receita”, continuou.
O advogado acredita que o RCE não vai resolver “a forma temerária como o Corinthians é administrado, e determinados credores não podem pagar essa conta. Menos ainda em contrariedade à Lei e sem garantias”.
Caso a Justiça não acate o pedido, Robalinho solicitou que, ao menos, o clube faça o pagamento com 20% das suas receitas recorrentes, no prazo máximo de 10 anos, com atualização da Selic a partir da data do pedido do RCE, mas excluindo os créditos de natureza trabalhista ou alimentar, como honorários advocatícios, ou que tenham tratamento diferenciado.
O Corinthians foi intimado pela Justiça para se manifestar quanto a esse e outros pedidos de impugnação no RCE. O empresário André Cury também tenta derrubar o procedimento, assim como a Pixbet e outros credores. O clube ainda não apresentou resposta. Procurado pela ESPN, não respondeu, mas não costuma se manifestar sobre ações judiciais.