Quem é o técnico que superou drama e devolveu PSG à final da Champions

Prepotente. Difícil de lidar. Dono da razão. Características que colam em personagens públicos que preferem fugir dos clichês e serem eles mesmos. Luis Enrique é assim – embora seja injusto reduzir o técnico que pode levantar a primeira Champions League da história do PSG a termos pejorativos.

Dez anos depois de ir ao topo da Europa com o Barcelona de Messi, Suárez e Neymar, o explosivo técnico espanhol dirige o clube de Paris contra a Inter de Milão, neste sábado (31), em Munique. Se vencer, bota seu nome de novo no olimpo. Caso perca, não será o fim do mundo. Por quê? A vida já tirou mais de Luis Enrique do que títulos decididos em um campo de futebol.

Era 29 de agosto de 2019 quando o mundo desabou sobre a cabeça do técnico: a filha Xana não resistiu a um osteossarcoma, um tipo de câncer agressivo que atinge os ossos, e morreu aos nove anos. A notícia ganhou as manchetes no mundo do futebol, causou comoção de diversos personagens, mas, claro, não aplacou a dor. Como dar a volta por cima? A resposta era simples: sendo ele mesmo.

“Posso me considerar sortudo ou azarado? Eu me considero sortudo. Muito sortudo!”, declarou Luis Enrique, em documentário realizado pela Movistar em 2024. “Você pode me dizer: mas como, se você perdeu sua filha com nove anos? Bom, minha filha viveu nove anos maravilhosos conosco, temos mil lembranças, vídeos, coisas incríveis que ela fazia”.

Tais recordações maravilhosas vão além dos arquivos pessoais do técnico. Em 2015, minutos após o Barcelona ganhar a Champions League sobre a Juventus, em Berlim, Luis Enrique aparece brincando com Xana no gramado. Ela, com a camisa 8 de Iniesta, diverte-se com a bandeira, posa com o troféu e atrai todos os olhares do pai, que até hoje zela por sua memória.

“Minha mãe não podia ter fotos de Xana em sua casa. Até que um dia fui visitá-la e perguntei por que não havia nenhuma foto dela. ‘Não consigo, não consigo’, ela me disse. ‘Mãe, tem que colocar fotos dela. Xana está viva. No plano físico não está, mas no plano espiritual está, porque falamos dela todos os dias, rimos e lembramos’. Eu acredito que ela consegue nos ver, então penso: como eu gostaria que Xana pensasse?”.

Pai saudoso, esportista implacável

A vida de Luis Enrique vai muito além do futebol. Meio-campista talentoso e dedicado, que vestiu as camisas de Sporting Gijón, Real Madrid, Barcelona e seleção da Espanha, ele pendurou as chuteiras em 2004, mas não aguentou ficar parado. A adrenalina do esporte ainda o consumia.

O jeito foi encontrar outra atividade para ocupar a cabeça. A escolha foi pela corrida de rua. Ainda com corpo de atleta, Luis Enrique se dispôs aos sacríficos físicos para realizar o desejo de correr uma maratona em menos de três horas.

“Eu não esperava esse tipo de homem. Um milionário que conhecia o sofrimento e quisesse sofrer. Ele precisava sofrer. Sua vida no futebol tinha acabado, mas sua mentalidade de atleta não havia esgotado. Não sabia como viver sem ela”, contou Victor Gonzalo, responsável por treiná-lo, em entrevista ao Uol.

A primeira prova completa foi em 2005, em Nova York, ao tempo de 3 horas, 14 minutos e 9 segundos. Quase bateu a meta pessoal em Amsterdã, mas cumpriu o objetivo em Florença, menos de dois anos depois da estreia, ao cruzar a linha de chegada antes das três horas.

Meta cumprida, objetivo renovado. Luis Enrique passou a dedicar-se ao triatlo, esporte que demandaria um comprometimento ainda maior. Nada inalcançável para alguém de tamanha dedicação.

Assim, o espanhol disputou provas de Ironman em Lisboa e Frankfurt. Em uma delas, chegou a pedalar 180km, nadar outros 3,8km e ainda ter pique para correr 42km. O ápice foi a Maratona das Areias, percurso de seis etapas no deserto do Saara, no Marrocos, com 250km no total.

A vida caminhava para isso até que outra oportunidade mudou a sua história. Era 2008, e o Barcelona preparava uma revolução no seu futebol. Joan Laporta promoveu o ex-volante Pep Guardiola, amigo e ex-companheiro de Luis Enrique, para o posto de técnico do time principal. A vaga na equipe B estava aberta e foi oferecida ao espanhol.

Daí para o sucesso. Luis Enrique passou três anos na base do Barça, dirigiu a Roma por uma temporada, o Celta de Vigo por outra e voltou ao Camp Nou para liderar o trio MSN ao até hoje último título de Champions League do clube. Passou pela seleção da Espanha, que dirigiu na Copa do Mundo de 2022, e assumiu o PSG no ano seguinte.

Mais experiente, mais vencedor, mais preparado. Esse é o Luis Enrique que atropela os estereótipos para quem sabe fazer história neste sábado. O ex-meia que virou triatleta, o pai que até hoje sente a presença da filha a seu lado. E que sabe que não estará sozinho na Allianz Arena.

“Tenho memórias incríveis, porque minha filha adorava comemorar. E tenho certeza de que, onde quer que ela esteja, ela continua festejando. Lembro-me de uma foto incrível que tenho com ela depois de vencer a final da Champions em Berlim, colocando uma bandeira do Barça no centro do campo. Espero poder fazer o mesmo com o PSG”.

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