O Botafogo anunciou Davide Ancelotti, filho de Carlo Ancelotti, como novo treinador. Será no futebol brasileiro, portanto, onde o italiano dará os primeiros passos como técnico, já que até então era auxiliar do pai nos clubes por onde passou.
Apesar de ainda ser um desconhecido para muitos no Brasil, Davide já trabalhou com muitos brasileiros ao longo da carreira, inclusive durante a passagem em 2018 pelo Napoli, logo após a sua estreia como auxiliar de Carletto no Bayern de Munique.
Um dos brasileiros que conviveu nos bastidores com o agora técnico do Glorioso foi o goleiro João Piai. Depois de passar pelas bases de Fluminense e Novorizontino, o arqueiro se transferiu para a Itália e conheceu Davide no dia a dia.
Em entrevista exclusiva à ESPN, Piai lembrou das qualidades de Davide Ancelotti, que mesmo como auxiliar já tinha um papel fundamental no trabalho do pai, e que nos bastidores o italiano era muito tranquilo no trato. Longe de ser “explosivo”.
“Ele era o ponto-chave, tinha toda a interação comissão técnica e jogadores. Por ele falar em torno de cinco línguas, conseguia ter contato com todos os jogadores, sempre conversava muito e estava presente nos treinos. Durante o treino, o Carlo (Ancelotti) ficava assistindo, era uma coisa ou outra pontual, mas o Davide que fazia essas coisas, chamar o atleta, conversar bastante com ele, pegar e unir o grupo. Sempre fez bastante essa parte e fazia, entre aspas, o grosso do trabalho e trazia tudo peneirado para o pai dele”, disse.
“Ele sempre ajudava nos treinos, o pai ficava mais assistindo, então era ele e o outro (auxiliar) adjunto que comandavam o treino. Tudo era passado anteriormente, eles organizavam e guiavam o treino. Ele sempre estava junto de todo mundo, fazia essa parte de conversar com os atletas, analisar todas as informações e repassar o treino e depois passava tudo para o pai dele”, prosseguiu.
O fato de ser poliglota facilitava a interação de Davide Ancelotti com os jogadores. E o português era uma das línguas que o italiano arriscava falar, como também lembrou João.
“Ele tentava falar um pouco de português. Como ele fala italiano e espanhol, já dava para entender muito bem. Até hoje eu falo italiano, então a gente conversava em italiano, uma coisa ou outra em português, mas dava para arranhar bem”.
“Ele sempre foi muito receptivo, se você fosse conversar com ele, te recebia, conversava, tirava as suas dúvidas, te agregava nos treinos também. Ele nunca foi de dar muito esporro nos atletas, sempre tentava organizar de uma maneira assertiva. Sempre buscou esse lado, nunca foi muito de bater em cima de alguém, isso tranquilizava muito os atletas e toda a equipe”.
Sobre o estilo de jogo de Davide, o arqueiro brasileiro o define como ofensivo, uma influência que buscou do próprio pai.
“Ele pegou um pouco do pai dele, que é bem ofensivo. Nos treinos gostava sempre de trabalhos ofensivos. Guiava sempre essa parte de finalização”.
‘Achava que ele só se separaria quando o pai se aposentasse’
Sobre a ida para o Botafogo, prestes a fazer a sua estreia como treinador na liga brasileira, João Piai não escondeu a surpresa com o fato de Davide já ter se separado do pai. E citou também o desafio que ele terá pelo fato de ter Ancelotti como “sombra” na carreira.
“Eu achava que ele só iria se separar do pai quando ele se aposentasse do futebol. Até porque seria um pouco mais cômodo ficar atrás do pai e depois só continuar. Eu não esperava essa separação assim, creio que ele está pronto para o futebol, querendo até começar no Brasil, que é uma das ligas mais fortes e, na minha opinião, uma das que mais tem pressão, principalmente em cima de técnicos. Acho que vai ser um bom começo para ele conseguir lidar e seguir a carreira dele, acho que ele sempre teve essa ideia e esse caráter de seguir”, disse.
“Se desvencilhar (do pai) é muito difícil. Você pode até colocar outros jogadores que foram, por exemplo, o Simeone, que o filho está jogando agora também, é difícil desvencilhar o nome. Ele vai ter o Ancelotti no sobrenome, vai remeter ao pai dele, então vai ser difícil fazer essa separação. A melhor maneira é fazer um bom trabalho, manter o trabalho do pai dele e seguir criando um nome a partir disso. Aí ele vai conseguir ganhar as mesmas Champions que o pai ganhou, quem sabe uma Libertadores e um Campeonato Brasileiro por aqui também, e ir crescendo. É um degrau de cada vez”, prosseguiu.
Em relação à ida para o Glorioso, João disse que a escolha não foi mera coincidência, e sim porque Davide sabe que poderá fazer um bom trabalho por lá e para qual clube está indo.
“Para ele ter aceitado esse trabalho, também teve muita análise por trás. Ele deve ter analisado os jogadores. Para o Davide entrar ali no Botafogo, ele fez uma pesquisa prévia, deve ter ido atrás dos jogadores, analisado o jogo, o que ele poderia aproveitar ou não. Ele não daria um tiro no escuro, penso que não seria um conselho do pai dele dar um tiro no escuro e ir para qualquer time que ele não tenha analisado antes. Se ele foi para lá é porque acredita que vai fazer um bom trabalho e conseguir os resultados que deseja”.
No clube carioca, o italiano reencontrará um velho conhecido no elenco: o volante Allan, também ex-Napoli. E para João Piai, o meio-campista pode ser um elo entre o novo treinador e os atletas nessa sua chegada ao Rio de Janeiro.
“O Allan foi um jogador chave para o Napoli na época, foi até para a seleção. Sempre foi aquele volante que briga bastante e tem a qualidade no passe, sempre gostava de o ver jogando. Ele vai ser até a ligação do Davide com a equipe. O Allan já deve ter feito o entorno dele para que, na hora que chegar, ser bem recebido”, finalizou.
