Grafite, de costas, sofre falta na entrada da área. É longe do gol, mas não importa: o Morumbi chacoalha, urra e vibra. Era uma quarta-feira fria de 1º de junho de 2005 quando pouco mais de 42 mil pessoas pressentem, momentos antes, o futuro.
Poucas torcidas na história souberam o que é sentir algo assim como a do São Paulo. Entre 1997 e 2015, cada vez que um árbitro anotava uma falta nos arredores da área, ela aparecia. A confiança, a empolgação. Muitas vezes até a certeza.
É o que faz ter Rogério Ceni no time. Naquela noite de CONMEBOL Libertadores, o camisa 1 saiu do próprio gol, atravessou o campo, ajeitou a bola com carinho e, como todos sabiam que faria, a colocou na rede, sem qualquer chance para o argentino Campagnuolo.
Foi o primeiro dos quatro gols que o São Paulo fez no Tigres, time do México e adversário nas quartas de final da Libertadores de 2005. Um passo importante para a campanha que acabou com o tricampeonato e que espantou até quem foi ao Morumbi não para torcer, mas para trabalhar.
Neste sábado (12), estreia o documentário “Doutrinadores“, produção especial da ESPN que conta a história e os bastidores do São Paulo tricampeão da Libertadores há 20 anos. A obra, que estará disponível no Disney+, contém imagens da época, acervos pessoais, histórias inéditas e entrevistas de alguns dos principais personagens daquele time, como por exemplo Paulo Autuori.
Técnico que assumiu o Tricolor após a saída de Emerson Leão, em abril, o hoje comandante do Sporting Cristal revelou à ESPN um pequeno relato que mostra como Rogério Ceni estava de fato encantado naquele ano de 2005. Foram 21 gols na temporada inteira.
O ídolo abriu o placar aos 30 minutos do primeiro tempo e viu, de longe, Cicinho servir Luizão para ampliar antes do intervalo. Na etapa final, outra falta, agora do outro lado do campo, que permitiu a Rogério uma segunda chance. O Morumbi, de novo, gritou antes. E com toda a razão.
“No segundo gol de falta, eu estava em pé, lógico, comemorando, e o bandeirinha voltando para o meio-campo para dar o gol. E com aquele sotaque argentino, ele passou falando: ‘Fenômeno, fenômeno’. E eu falei para ele: ‘Sim, fenômeno, mas sorte a minha que está do meu lado'”, contou Autuori, aos risos, em entrevista exclusiva para o documentário.
“O Rogério Ceni está na história do futebol. O tanto de gols que ele fez, além de ser um grande goleiro debaixo do gol, não tem o que falar. Eu tinha confiança muito grande nele. Estou te falando, cavava a falta, ele ia fazer o gol. Dificilmente ele errava”, complementou Danilo, camisa 10 daquele time e também presente na obra.
Souza ainda 3faria o quarto gol são-paulino, em uma noite memorável que podia até ter ficado maior. Diego Tardelli sofreu pênalti e deu a Rogério a chance de ser o primeiro arqueiro a marcar três vezes em uma partida oficial. O chute saiu forte, mas subiu demais e acabou fora.
“Certamente ficou (chateado) porque poderia ter feito, se não me engano, algo inédito. Um goleiro ter um hat-trick. É claro, deve pensar ‘poxa, era a chance que eu tinha de fazer algo inédito’. Mas acho que no geral aquilo ali foi diluído um pouco”, comentou Autuori, sobre a reação do ídolo após a partida.
O documentário “Doutrinadores”, que conta a trajetória do São Paulo campeão da Libertadores em 2005, estará disponível no Disney+ a partir deste sábado (12).