Luizão chora ao lembrar do São Paulo-2005: ‘Nunca tive isso em outros clubes’

Vinte anos passam rápido, mas não o suficiente para apagar memórias. Da chegada sob desconfiança, da volta por cima, dos gols decisivos e do barulho de mais de 70 mil pessoas pedindo uma só coisa: “Fica, Luizão”.

Ele queria ter ficado, mas não era possível. Camisa 11 daquele São Paulo tricampeão da CONMEBOL Libertadores em 2005, o ex-atacante revelou bastidores da época no documentário “Doutrinadores“, produção da ESPN disponível no Disney+ a partir deste sábado (12), sobre o primeiro time do Brasil a conquistar três vezes a América.

O carinho pelo Tricolor é tão grande que Luizão não conteve a emoção e chorou muito (veja no vídeo acima) ao lembrar a passagem pelo clube. Seis meses que pareceram anos. E que duas décadas não são capazes de mudar.

“Meu jogo de despedida, a torcida gritando para você ficar, gritando seu nome… Poxa, eu nunca tive isso nos outros clubes”, admitiu o eterno goleador. “Sempre me dediquei. Sempre joguei lesionado. Honrei as camisas dos times que eu joguei. Só ver como eu carrego hoje, 12 cirurgias. Eu era maluco dentro do campo. Dava porrada no zagueiro, apanhava, era expulso, cartão amarelo. Esse era eu. Não estava olhando para a camisa, estava olhando para a torcida, jogando para o clube. Eu queria ganhar. Meu lance era esse”.

De fato, o Luizão que chegou ao São Paulo já era um grande campeão. Artilheiro por onde passou, desde a base do Guarani até os rivais Palmeiras e Corinthians, o atacante precisou brigar muito, inclusive com o então técnico Emerson Leão, para dar certo no Morumbi.

“Me lesiono no Botafogo e venho fazer o tratamento no São Paulo E aí, quando me curei, tinha acertado com o Fluminense. Aí o Marco Aurélio [Cunha, superintendente de futebol] e o João Paulo de Jesus [Lopes, diretor de futebol] foram na minha casa e me convenceram a vir para o São Paulo. Aí eu falei: ‘Poxa, mas o treinador não me quer. Eu vou fazer o que lá?’. ‘Mas a gente te quer’. Aí eu fui parar no São Paulo. E foram seis meses magníficos, de muita felicidade, de muita alegria. Parece que eu joguei três ou quatro anos no São Paulo”.

Luizão chegou contra a vontade do técnico, mas passou a ganhar espaço. Fez gol em clássico com o Palmeiras, marcou na estreia da Libertadores contra o The Strongest e foi campeão paulista no primeiro semestre. Mas, diante da dificuldade de convencer Leão de que poderia jogar mais do que a dupla titular (Grafite e Diego Tardelli), o atacante se rendeu.

Uma oferta do Gamba Osaka, do Japão, por um contrato de um ano e meio, fez o camisa 11 repensar a permanência no São Paulo. Luizão assinou, algo que, semanas depois, se arrependeria.

“Fui perguntar para o Leão. ‘Olha, recebi uma proposta do Japão, o que você acha?’. Ele falou assim: ‘Quantos anos você tem?’. Eu falei 29. ‘Ah, se eu sou você, eu assino’. E aí você vai fazer o quê? Depois, poxa, o Autuori chegou e eu me arrependi. São coisas da vida”.

A mudança de técnico deu novo gás a Luizão. Com Paulo Autuori, o atacante ganhou a posição de Tardelli e passou a jogar mais. Fez gols que o transformaram no maior artilheiro brasileiro da Libertadores (recorde que Gabigol bateu mais de uma década e meia depois) e vivenciou outro tipo de sacrifício.

Além dos cuidados com o joelho, ele precisou enfrentar um corte profundo no supercílio durante uma partida do Campeonato Brasileiro. Um obstáculo a mais para quem, como ele, já estava acostumado a superá-los.

“O Marco Aurélio fez uma plástica aqui, que não dá nem para ver muito. Foram 22 pontos. E eu me lembro que o Joaquim Grava estava em um programa de televisão e perguntaram se ele achava que eu ia jogar na quarta-feira [contra o Palmeiras, na Libertadores]. Aí o Joaquim: ‘Sendo o Luizão, eu não tenho dúvida que ele joga’. Aí fizeram aquela máscara toda, as pessoas me chamavam de ‘Chucky’. Mas eu fui”, lembra Luizão.

“Acho que isso marcou muito assim para a torcida do São Paulo, mas para o futebol brasileiro. Acho que nenhum jogador hoje teria coragem de jogar como eu joguei”.

A coragem foi recompensada. Com Luizão cada vez mais decisivo, o Tricolor avançou na Libertadores. Deixou Palmeiras, Tigres e River Plate pelo caminho para decidir com o Athletico-PR. No primeiro jogo, empate por 1 a 1 no Beira-Rio, em Porto Alegre. A festa estava armada para o Morumbi, quando o atacante precisou de novo se superar para estar em campo.

“Passei a noite inteira com o Rosan [fisioterapeuta] fazendo tratamento no joelho. O Autuori ficava esperando e eu falava: ‘Deixa eu aquecer, que a hora que eu aquecer que vou ver se dá para eu jogar'”, conta o artilheiro, que viveu uma despedida e tanto naquele 14 de julho de 2005.

O placar marcava 2 a 0 para o São Paulo quando Amoroso, o antigo parceiro desde a juventude no Guarani, arriscou jogada individual pelo lado direito. Ao não ouvir o assovio do amigo, percebeu que o cruzamento era para ser na segunda trave. Dito e feito: a bola chegou, Luizão a empurrou para a rede e já caiu no choro.

“O Autuori ia me tirar do jogo. Parecia que eu sabia que ia fazer um gol. Eu falei: ‘Espera um pouco, espera um pouco’. E eu vou e faço o gol. Era meu último jogo. A torcida gritando meu nome. Você vê o time inteiro vindo me abraçar. Eu saio chorando. Porque eu sabia que era meu último gol ali mesmo e ia fechar com chave de ouro”.

A desconfiança deu lugar a redenção. O atacante machucado que entrou pelo CT da Barra Funda meses antes sairia campeão da América e adorado pela torcida. Pouco importava o passado nos rivais: Luizão, a partir daquele 14 de julho de 2005, era São Paulo. É São Paulo.

Essas e outras histórias daquela campanha, a primeira de um brasileiro três vezes campeão da América, estarão todas no documentário “Doutrinadores”, disponível no Disney+.

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