O empresário John Textor, dono da SAF do Botafogo, revelou que teve uma conversa com o técnico Renato Paiva antes do jogo contra o Palmeiras, pelas oitavas de final do Mundial de Clubes, em que o clube foi eliminado após perder por 1 a 0. O treinador foi demitido menos de dois dias depois, mesmo tendo conseguido uma vitória histórica sobre o PSG na mesma competição, e o norte-americano explicou o motivo: “quebra de princípios”.
“Por que o demitimos (Renato Paiva) logo depois de ele vencer o PSG? Ele quebrou seus próprios princípios, se afastou de seu plano. Nós o contratamos porque ele tinha, não sei, cinco opções verticais, um técnico posicional, muito bom em conscientizar os jogadores onde ficar no campo em diferentes momentos e terços. E então, sinceramente, nossos torcedores o detonavam, muita pressão. E aí ele muda seus princípios, passamos sufoco”, iniciou, em entrevista ao TalkSport, da Inglaterra.
“Deveríamos ter vencido o Atlético de Madrid, deveríamos ter vencido o Palmeiras. Somos melhores que o Palmeiras. Quando ele quebra seus princípios. Foram durante dez jogos, vimos isso acontecendo… A decisão foi tomada por dez jogos. Eu perguntei para ele: qual foi o melhor jogo da sua vida? Ele disse que contra o PSG. E aí disse: ‘Qual você acha que foi o meu melhor jogo como dono?’. Eu disse PSG também. Mas aí falei: ‘Esse não é o PSG, você está enfrentando o Palmeiras, jogue futebol. Vá lá e acabe com eles, certo?’. E o que fizemos? Ficamos nos defendendo e fomos eliminados. Por dez jogos, ele quebrou seus princípios e, quando você quebra seus princípios, você precisa sair”, completou.
Textor afirmou que “não é uma pessoa do futebol”, mas disse que tem confiança nos scouts, que analisam desempenho dos jogadores.
“Eu não escolho o time, mas eu tenho autoridade. O que eu faço é forçar a colaboração, certo? Acho que as pessoas que mais entendem de futebol são tímidas, eu sou a favor dos scouts mais do que os diretores de futebol. E acho que os scouts são as pessoas que falam mais baixo às vezes, e elas são as que mais têm a acrescentar. Eu vejo cententas de jogos ao ano, e não acho que sou uma pessoa do futebol”, disse.
O mandatário reforçou que não se intromete em escalações e que não faz cobranças imediatas em caso de derrotas, mas exigiu que os jogadores e o técnico sigam um plano de jogo.
“Eu não escolho o time. Eu vejo os scouts, vejo a discussão (com o técnico), não entro nisso. O que forço é que eles amem essa colaboração, que eles trabalhem juntos, e as respostas vão ficando óbvias. Eu, como dono dos clubes, tenho um plano claro. Você contrata pessoas que se encaixam na sua visão. Eles jogam o futebol que você quer que seja jogado? Se você os contrata, porque eles te disseram sua filosofia, seu plano, eu quero ver isso ser implementado”, explicou.
“Eu quero ver esse plano de jogo, quero que eles prevejam o adversário, escrevam o que esse rival vai fazer, o que nós vamos fazer, como fazer. Eu olho aquilo, leio e digo uma coisa: ótimo, obrigado, divirta-se. Digo isso antes de qualquer jogo e, depois do jogo, nunca ligo logo depois do jogo, não grito, não fico bravo…”, seguiu.
“Alguns dos melhores jogos que vi como dono foram derrotas, porque vi o time fazendo o que o técnico queria. Talvez, um dia depois de dizer divirta-se, eu pergunto: ‘O que você aprendeu?’. Então, perdemos um jogo de 2 a 0 para o Santos no primeiro ano de Luís Castro, nossos torcedores ficaram bravos, fui embora tão feliz, era fora de casa, porque foi a primeira vez que vi os jogadores implementando o plano do técnico. Eu vejo o plano, vejo se ele segue fiel a ele em campo”, finalizou.
Segundo apurou a ESPN, a demissão pegou Renato Paiva de surpresa e também causou desconforto pela forma como ocorreu. O treinador foi informado de que não seguiria no cargo por Alessandro Brito, diretor de gestão do Botafogo. Ele esperava, contudo, ao menos um contato formal ou uma conversa direta com John Textor.